A dúvida, a morte, Deus e o mar

Divaguei no Twitter, mas trouxe para cá

Karoline Albuquerque
4 min readSep 12, 2020
Dica: se você pesquisar por “paraíso” no Pexels, 99% das fotos são do mar. FOTO: SARA/PEXELS

Eu finalmente tive coragem de ver o vídeo de Ora Thiago sobre a morte, enquanto maratonava o canal (vou deixar o vídeo aqui). Talvez o pior momento, né. Mas é tão isso. É aquilo de que a vida é só certeza até ali. Depois daquele ponto, a gente não sabe mais o que vai acontecer. E isso me dá um medo danado.

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E é justamente o pensamento sobre a morte que me faz, há alguns meses, questionar minhas crenças, que passam de um “Deus nem existe” de manhã para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria antes de dormir. De achar que a vida é isso mesmo e ao mesmo tempo me benzer ao sair na rua.

Desde sempre eu tenho medo de morrer. Mas tem momentos que não. Tem momentos que eu penso que é só isso mesmo, como no dia em que eu tive uma crise de coluna tão aguda que eu simplesmente não queria mais sentir a existência na maca da emergência.

Esse dia, aos 25 anos, foi a primeira vez que eu rezei pedindo a Deus que Ele não existisse. Porque eu não queria mais nada. Eu não queria mais sentir ou existir. E esse “existir” não era só de corpo. Era de alma/mente.

Por mais que eu escute que nesse pós vida católico não há sofrimento (independente das pessoas saberem o que o finado fez ou deixou de fazer em vida, já que há o pecado que pode atrasar o caminho ao paraíso), pensar também é existir. Saber que eu estaria ali, sem dor ou sofrimento, mas que tantas pessoas, muitas que eu amo, estariam ainda presas em um plano doentio.

Ou a ideia de uma reencarnação. Por que voltar? Por que um local tão sombrio para chegar ao ponto indicado? A vida em carne e osso já não é complicada o suficiente? Tem que sofrer mais?

E se for como a série Lucifer? FOTO: REPRODUÇÃO/NETFLIX

Nem me faça começar no conceito de inferno. Danação eterna não me parece justa (a não ser para uma dúzia ou outra de pessoas). Para tantos? Por tantas razões banais? Por não ter dedicado a vida inteiramente a um Deus autoritário e ter dividido atenção com o mundo? Mas eu disse que não ia começar no conceito de inferno.

Pensando tanto no que pode ser a morte, nos últimos anos, depois de perder tia Lola (2016), vovó Laura (2018) e vovô Inácio (2020) já adulta. Eu sei que, se há um lugar de fato muito bom, eles estariam lá. Apesar dos pecados que cometeram em vida. Ou o que os olhos e a culpa cristã enxergam como tal, como essa “infidelidade”.

Levo a maior fé nessa dupla. FOTO: DIVULGAÇÃO/GLOBO

O que me leva de novo ao medo da morte. Ao mesmo tempo em que tenho sérias dúvidas sobre a existência de um Deus (mesmo usando um escapulário, rezando todas as noites, acreditando nas existências de Jesus e Maria — minha mãezinha do céu — até fazendo promessas), eu tenho medo de não acreditar.

Será que não acreditar vai me fazer sofrer mais do que a passagem pelo plano terreno já faz? Das dores, das angústias, das injustiças, das punhaladas nas costas, da ausência de amores? Será que isso é justo? Será que é um motivo, mesmo levando uma vida pacata e tentando dar o melhor?

E só agora eu entendi o que é isso. Eu rezo todas as noites. Mas falho em sentir uma conexão todas elas. E peço perdão todas elas. Eu sempre evitei responder as coisas com “graças a Deus”. Eu não tenho medo de chamar o ruim, porque a existência dura é essa daqui.

Posso dizer quantas vezes senti de fato uma conexão divina e uma boa sensação dentro de uma igreja: no dia em que vovó Laura me levou para fazer uma promessa no Morro da Conceição, aos 15 anos, e ano passado, sentando num banco de igreja em outra cidade e pensando nela. Só agora, escrevendo esse texto, eu percebi que a minha percepção de divino está toda associada a minha avó Laura. Isso nem ia ser sobre ela.

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Eu ia explicar, por exemplo, como a ligação mais espiritual que eu tenho é com o mar. Talvez por isso até eu não tenha sentido raiva de ter afogado meu celular com água salgada. O mar é, para mim, o lugar mais calmo que existe.

Eu já escrevi diversas vezes sobre isso. O mar é o lugar mais divino. Onde eu consigo sentir uma conexão maior. E eu agradeço, se há um Deus, por poder boiar com as ondas. Pelo sal na pele sob o sol.

Eu tenho medo da morte pela dor. Pelo sofrimento. Pela angústia. E pelo que pode vir depois. Meu maior desejo é que seja um sono sem sonhos.

Mas, se houver algo, eu espero que seja como boiar em um mar tranquilo.

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Karoline Albuquerque
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Written by Karoline Albuquerque

Queria ser astronauta, mas sou jornalista.

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