Medo de abelha
Eu tenho medo de abelha. Muito medo mesmo. Também tenho de borboleta. Já foi pior, hoje eu controlo. Mas nenhum deles chega ao desespero que meu maior medo me dá.
Nunca gostei muito de pensar no futuro. Naquele futuro distante, em que tenho mais do que meus cinco fios grisalhos. Em que meu rosto já não é o mesmo lisinho e as pálpebras estão caídas.
Em que me chamam de “vó Karoline”.
É uma taquicardia. Um desespero. Uma necessidade de carinho do agora. Só em pensar que um dia estarei no lugar dos meus avós, falando em pessoas do hoje no passado. Quando minoria serão meus contemporâneos.
Meu medo não é envelhecer. Me enxergar enrugada, apesar de toda a vaidade. É sofrer, ficar debilitada. O quanto a morte pode doer. Ou no pós, com céu, inferno, umbral ou reencarnar. Tudo sozinha.
Mas, ainda pior, seria pensar em como será o mundo em que viverei. Guerras, poluição, fome, sede. Pandemias. Meu maior medo é a distopia.
Então, eis que aos 27 anos, nada disso está no futuro. É o agora, o presente. Sem saber o que esperar do amanhã. Tentando manter a calma, mentalizar que dias melhores virão.
Desejando que possa chegar ao dia em que estarei de branco no altar. Que eu sentirei a dor da alegria de parir um filho. E o momento em que estarei lançando um livro ou recebendo um prêmio.
Sem aquele desespero de dizer que ama agora. Que quer urgentemente. Que deseja de pronto. Apesar do medo.