Não há lado positivo no isolamento

Karoline Albuquerque
2 min readApr 3, 2020

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Photo by Eric Antunes from Pexels

Acho bonito de verdade quem acha que vivemos um momento para pensar, olhar para dentro. De humanidade suja, que precisa se limpar, principalmente em seu interior. Mas não consigo. Não enquanto milhares de pessoas estão morrendo ou adoecendo, ou isoladas sem renda para se manter.

De modo geral, costumo ser bem resiliente. Mas não estamos em um momento geral. Então, não sei bem se sinto inveja ou pena de quem vê a atual situação como um período de olharmos para dentro. Já tive isso. E, honestamente, não quero voltar para lá.

É como se eu sentisse que tudo estava ficando bem, mas agora tudo influi a ficar triste. Até uma mensagem não respondida, e tenho que lembrar que na verdade as pessoas também talvez estejam mal. A única vontade é jogar sudoku até tudo passar (ou qualquer outro joguinho viciante).

A sensação é outra. De ter um ano de vida completamente desperdiçado. Um ano sim, porque as projeções não conseguem nem nos dizer quando voltaremos à normalidade. Ou a uma nova normalidade. E é “engraçado”, porque faço 27 anos esse ano. O Clube dos 27 realmente me assusta.

Não dá para achar que a pandemia do novo coronavírus veio nos dar uma lição. Como as pragas do Egito ou o dilúvio. Pelo menos, não é bem como age o ser superior do Novo Testamento. Parece papo de coach (que, aparentemente, sumiram, né?!).

Uma lição com mais de 1 milhão de pessoas doentes e 50 mil mortos (até agora). É como pegar Maceió, capital alagoana, e infectar todas as pessoas ali. Ou como deixar que toda a população de Paudalho ou Buíque, em Pernambuco, morrer.

Que reflexão é essa em que eu e você estamos, felizmente, em distanciamento social e alimentados, mas tem gente que engana o estômago com cola de sapateiro? Que vai pegar o corona, morrer na rua e ninguém vai saber que foi mais um caso? Que olhar interno é esse que não enxerga o amigo mesmo, aquele que está em casa, asmático?

Não dá para refletir quando o único desejo latente é o da liberdade. Uma normalidade pós-apocalíptica em que ir ao mercado é uma aventura? O mundo é muito grande para que voltemos a viver como se fosse apenas uma vila. Para ser um feudo? Não quero. Não vou refletir.

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Karoline Albuquerque
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Written by Karoline Albuquerque

Queria ser astronauta, mas sou jornalista.

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