O mar e eu
Eu sei que existe o sigilo da terapia, mas eu posso compartilhar
Durante a terapia da semana, a minha psicóloga perguntou sobre minha recente viagem. Conversa vai, pergunta vem, falei sobre minha relação com o mar. Eu não gosto de praia. Moro na praia, mas não vou à praia. Não gosto de ficar quarando no sol. Eu gosto mesmo é do mar.
Se for para pisar na areia, que seja ao menos para colocar os pés dentro d’água. Se for para passar o dia na praia, que seja para salgar (“igual carne de sol”, falei para ela). Se for para passar perto da orla, que seja para sentir o cheiro da maresia. Aquele que oxida o metal e lava a alma.
Então, lembrei de todas as vezes em que pensei em morar em algum lugar que não tem mar. E me dá uma certa angústia. Porque eu não vou à praia, mas eu preciso do mar. Quando eu quiser, ele está lá para mim. Algo que, veja bem, uma psicóloga definiu como “relação espiritual”.
E acho que deve ser isso mesmo. Quando eu entro no mar, é como se tudo de ruim ficasse em terra. Mesmo que existam tormentas, tempestades ou maremotos, o mar fica. Ele permanece e acolhe. O mar guarda. Abriga. Protege.
Quando eu estou no mar, nada de mau pode me acontecer. Mesmo que eu tome um caldo ou quase me afogue, eu não fico com medo. Mesmo com poucas habilidades para nadar, é nele que quero estar. Dou o tempo dele. Mas eu sempre volto para o mar.